domingo, 29 de julho de 2012

A Caminho das Estrelas


Era uma vez um menino, que nasceu no dia de São Sabino, na rua das Virgens,Luís foi batizado aos 5 meses pelo Pe. João Maria, hoje o Santo de Natal.
Cresceu cercado de carinho e cuidados, ouvindo estórias contadas por sua babá Dona Bibi, desde cedo enveredou pela cultura... Esse menino agora era o jovem Luís da Câmara Cascudo que desejava ser médico, foi para Bahia e para o Rio de Janeiro, mas deixou o curso no 4º ano. Ingressou na Faculdade de Direito no Recife e lá se formou. Antes disso, finalizou seu sonho de Jornalista no Jornal A Imprensa fundado 10 anos antes por seu Pai. Lá iniciou seus escritos através da coluna Bric-a-Brac.
E o tempo passou... Passou e eis que um dia o belo jovem  de olhos azuis encontrou aquela que seria seu maior amor,porto-seguro,companheira de todas as horas...Sua Flor sem espinhos,Dahlía,que por sinal era a rosa de predileção de sua mãe.
Esse Advogado, Antropólogo ,Historiador,Jornalista,Folclorista ,mas acima de tudo e como gostava de ser chamado,Professor Luís da Câmara Cascudo,encantou-se num 30 de julho de 86,aos  87 anos,chamando por quem mais amava no mundo:
­­_Ai Dahlia!!!
“ Mas a viagem Cascudeana não terminou com a morte.Segue,agora,a caminho das estrelas”.Ele mesmo dizia: “ Como a morte existe,os mortos não!...”
E assim encantou-se,mas ainda vive,e viverá sempre que usar um provérbio,se fizer um gesto,dançar um Boi-de-Reis,ouvir ou contar uma história,lá estará ele o Homem que redescobriu o Brasil.


 

domingo, 10 de junho de 2012

Semaninha Agitada

Ai que coisa boa começar a semana contando estórias...Aí vai a minha agenda dessa semana:
dias11/06 e 13/06 as 14 hs.Livraria Paullus,na  Rua.Cel. Cascudo,Centro ;
 dia 15/06 as 11:15 hs na Cooperativa Cultural ,UFRN;
 Dia 16/06 as 16 hs. na Livraria Nobel,Salgado Filho...
Venha e traga toda a família,são estorinhas pra crianças de todas as idades!!!!!

sábado, 9 de junho de 2012

Um Conto Verdadeiro...


A História de Amor do Príncipe do Tirol e a Princesa Flor sem Espinhos


           Essa história se passou no reino da Noiva do Sol, lugar muito bonito cercado de natureza, com belas praias, dunas e grandes cajueiros. Certo dia Luís, o Príncipe do Tirol, ainda menino, chegou para a sua mãe, a Rainha Ana, e disse que havia sonhado com uma menina, com quem iria casar, a Rainha vendo-o ainda menino sorriu e voltou a cuidar do seu canteiro de dálias, flor de sua predileção.
           O príncipe cresceu, mas, jamais esqueceu a imagem da menina com quem sonhara. Viajou para estudar em outros domínios, fez muitas amizades e como sempre fora muito inteligente e simpático vivia cercado de amigos.
           Algum tempo depois de terminar seus estudos, já de volta a casa do pai, reencontrou um amigo com quem estudara nos domínios do Leão do Norte que estava hospedado no palácio de um tio no reino próximo, o príncipe então prometera fazer-lhe uma visita. Dias depois se lembrando de sua promessa, o príncipe Luís, mandou arrumar a carruagem e partiu para visitar o seu estimado amigo.
           Ao chegar ao reino, foi recebido por uma bela menina-moça,quando a viu,seu coração bateu desesperadamente, sua boca ficou seca, sentiu as pernas fraquejarem e do fundo do seu coração surgiu uma certeza absoluta de que já a conhecia. A menina aproximou-se e convidou-o a entrar e apresentou-se:
-Bom dia!Entre, acomode-se e fique a vontade, eu sou a princesa Dahlia.
E o Príncipe recobrando a cor respondeu:
-Obrigado senhorita. Eu sou o Príncipe Luís, também conhecido como Príncipe do Tirol.
-Encantada, vou avisar ao meu primo que o senhor chegou. Com Licença.
E saiu delicadamente, deixando o Príncipe do Tirol encantado com sua beleza, educação e delicadeza, Dahlia, esse era seu nome, a Flor sem espinhos...
           E logo que seu amigo, o conde D’Outro Lugar apareceu, ele quis saber tudo, estava completa e perdidamente apaixonado por Dahlia. O conde então lhe contou que ela era a filha mais nova do seu tio, o Rei José Teotônio, e que ele jamais permitiria tal aproximação, pois ela era praticamente uma criança.
           A Princesa Dahlia por sua vez, também se encantara pelos lindos olhos verdes do príncipe, e como ele era elegante, tão bem vestido, sempre de chapéu, bengala e com uma flor na lapela do paletó.
-Ai!!Suspirava ela. Que belo Príncipe!
Suas irmãs riam da paixão da caçula, achando que aquilo era fogo de palha.
           O príncipe Luís não tirava a princesa da cabeça, a quem chamava carinhosamente, Flor sem espinhos, estava decidido que iria conquistá-la e que ela seria sua esposa. Voltou para casa pensando em como faria para conseguir. Ao chegar ao palácio foi ter com a rainha sua mãe, e contou que tinha encontrado com a menina com quem sonhara na infância, seu nome era Dahlia, e era filha do rei José Teotônio e da Rainha Leopoldina que moravam num reino próximo, o rei Francisco seu pai já ouvira falar desse rei, dizem que é muito rígido, comentou. Mas Luís estava decidido e desse dia em diante passou a usar na lapela do paletó uma dália, e passava várias vezes na semana com sua carruagem em frente ao castelo na esperança de ver a princesa,esta quando percebeu,passou a ler todas as tardes na sacada do palácio só para vê-lo passar.
           Mas o rei José Teotônio, não permitiria o namoro, pois Dahlia era muito nova e suas irmãs é que estavam na idade de arranjar pretendentes, apesar de todas serem moças muito prendadas, afinal a rainha Leopoldina não descuidava da educação das filhas, que estudavam piano, francês e pintavam telas.Dahlia então passou a fazer questão de ir com os pais e irmãs aos bailes da corte,aprendendo a dançar e assim podendo ficar um pouco perto do príncipe Luís,suas irmãs ajudavam deixando o pai pensar que ele estava interessado em uma delas.
           E assim, durante algum tempo, eles foram se conhecendo e se apaixonando cada vez mais e mais, os pais da princesa foram conhecendo melhor o príncipe e começavam a gostar daquela aproximação. E então sempre que ia tocar em algum sarau, a princesa dava um jeito de avisar ao príncipe que aparecia com um ramalhete de dálias.
           Os amigos do príncipe não davam trégua, viviam lhe dizendo que Dahlia era muito nova, que ele deveria se interessar por uma moça mais velha, que ela ainda brincava de bonecas, mas ele não lhes dava ouvidos, e como forma de declarar seu amor incondicional, mandou de presente pra princesa uma linda boneca de louça, ela aceitou a declaração reconhecendo ali que o amor que os unia superaria qualquer obstáculo.
           Dois anos se passaram desde que se viram pela primeira vez, o Rei Francisco e a rainha Ana, pais de Luís, o príncipe do Tirol, foram até o palácio do rei José Teotônio que junto com sua esposa rainha Leopoldina, aguardavam com um belíssimo jantar o pedido da mão da princesa Dahlia em casamento para o príncipe Luís. Todos ficaram radiantes, afinal era a coroação do amor verdadeiro. Marcada a data, começaram os preparativos tudo tinha que sair perfeito...
           E no dia do casamento, Rainha Ana, Mãe do noivo, mandou trazer todas as dálias que houvesse no reino, para decorar a igreja, que ficou um sonho. Os noivos estavam lindos, o vestido da princesa era deslumbrante, de um branco puríssimo como as nuvens do céu, o príncipe não cabia em si de tanta alegria, e como sempre usava uma dália na lapela do paletó. O casamento foi o mais bonito de todos os tempos. Compareceram reis e rainhas, príncipes e princesas de todos os reinos magináveis e imaginários participaram da festa a princesa de Bambuluá, a princesa do sono sem fim, o príncipe lagartão, o rei dos pássaros e mais a mãe do vento, o curupira, a caipora, o saci pererê, a mãe d’água, o boitatá, entre outros.
           E quando terminou a cerimônia, houve uma grande festa que durou três dias, presente da Noiva do Sol, como homenagem aos noivos, seus ilustres moradores.
           O príncipe do Tirol e a Princesa Flor sem espinhos foram morar no mesmo palácio que se conheceram, presente dos pais da noiva, e lá tiveram dois filhos, um menino e uma menina. Lá criaram seus filhos, os viram crescer, casar e lá também viram nascerem seus netos e netas. Foram felizes para sempre e até hoje são, pois é assim que terminam todos os contos de fadas, até os verdadeiros. Como Esse!

...”Até eu fui convidada. Fiquei lá a noite inteira.
Por isso gente eu garanto. Que a história é verdadeira!”



terça-feira, 5 de junho de 2012

ESTORINHA JUNINA


Estamos no mês de Junho,das festas de colheita,ou juninas como costumamos dizer,embora esse ano não tenha havido inverno .Bom mas ,aí vai uma estória pra quem acredita em Santo Antônio também conhecido por ser o Santo Casamenteiro...Divirtam-se!Inté!

O SANTO CASAMENTEIRO

Conta-se que uma linda jovem chamada Cleonice, desesperançada de casar-se,sempre esperando por um noivo que nunca chegava,apegou-se com Santo Antônio, o Santo Casamenteiro.
Comprou uma imagem do santo,levou para benzer,fez-lhe um altar em sua casa e todos os dias prestava fervorosa devoção,dando-lhe um vintenzinho de promessa...
Música:Oração pra Santu Antôim  de Lêda Melo
Ai, meu Santu Antôim quirido,
Qué qui ocê andô fazendu
Qui isqueceu du meu pididu?
Vá logo mi socorrendu.
Abra bem us seus uvidu,
Tô vexada, ocê tá vendu.

Tanta vela qui acendi,
Tantu têiçu qui rezei,
As preméssa qui cumpri,
As vêiz qui mi ajueei.
Inté as conta perdi,
Dus pecadu qui paguei.

Num tenhu máis paciença
Pra pidí neim pra rezá.
Ocê vai mi dá licença,
Sêji pur beim ou pur má.
Pois mi bateu a discrença
Qui ocê qué mi ajudá.

Pódi num sê boa fé,
Máis u jeitu é eu fazê:
Li pindúru pelus pé
Inté ocê mi atendê.
Dispois num fáli qui é
Covardia cum ocê.

Quéru vê si dessa vêiz
Ocê num vai mi atendê!
Dou inté o fim du mêis
Pra módi arrecebê.
Si arresôrva di uma vêiz
I mi dê meu bem-querê.


Passaram-se semanas, meses, anos... E nada de casamento. O noivo tão sonhado não aparecera, nem corria voz de que algum mancebo, ou mesmo algum velhote teria por ela se interessado.
Depois de muita lamentação com sua velha mãe sobre o poder “miraculoso” do santo Antônio, agora posto em dúvida, pegou a imagem e no auge do desespero, atirou-a pela janela. Porém, na rua, embaixo de sua janela estava passando um belo cavalheiro chamado Policarpo, que recebeu em sua cabeça a imagem do santo, pegou-a intacta, Policarpo era um rapaz muito educado e vendo de onde tinha saído a imagem resolveu bater a porta para fazer a devolução,quando a porta abriu e ele viu Cleonice,ficou encantado,trocaram olhares e apaixonaram-se...
E dentro de alguns dias, aproveitando os festejos juninos, aconteceu o tão sonhado casamento.
“Até eu fui convidada, fiquei lá a noite inteira. Por isso gente eu te garanto que a história é verdadeira”

Tô perparandu quindim
I amendoim torradu
Pra isperá meu bemzim
Cum carim i cum agrádu.
Quéru festejá tudim,
Cum u meu xodó du ladu


quarta-feira, 9 de maio de 2012

CASA ARRUMADA


Essa não é uma história,mas vale pra refletirmos como realmente gostaríamos que fosse a nossa casa...

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma entrada de luz. Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
E o piso sem um arranhão?
Tá na cara que é casa sem festa.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que agente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que agente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos... netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que agente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.


Carlos Drummond de Andrade(1902-1987)


quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Enterro da Bicicleta - Nélson Saúte

Esse conto é de origem Moçambicana, contado por Nélson Saúte professor e jornalista nascido em 1967,em Lourenço Marques(hoje Maputo).Com vocês ...O ENTERRO DA BICICLETA

A aldeia foi sacudida com a notícia de morte do deputado.Todas as mortes são notícia em nossa terra,mas aquela foi invulgar.A consternação colheu também as aldeias mais próximas.Sem dúvida que aquele acontecimento para se escrever nos armoriais da povoação em que ele era a única personalidade carismática.Não era a primeira vez que empreendia aquela viagem de bicicleta até a vila,onde apanhava o Machimbombo(ônibus) que o levava ao distrito e, de lá,para a capital da província,de onde saía um boeing para a capital do país, onde se situava o parlamento.Nenhum dos habitantes daquelas terras alguma vez ouvira falar de leões.Falava-se,sim, de crocodilos que,não raro,devoravam crianças desprevenidas que tentavam atravessar para a margem adversa do rio.Contava-se inclusive uma história de uma mãe que velou a cabeça do filho,dado que o corpo fora engolido por um crocodilo no rio.Aquele leão foi o primeiro de que se ouviu falar e, provavelmente,ouvir-se a falar por muitos anos.Parece que o deputado ainda revelou alguma bravura quando se confrontou com a situação.Não fugiu,olhou frontalmente o animal,sem medo da sua juba e dos seus rugidos.Mas não estavam em igualdade de circunstâncias:as forças e armas eram tremendamente desiguais.O leão levou a melhor,tanto mais que do homem apenas restou uma bicicleta retorcida e alguns farrapos da sua roupa.Aldeia parou durante dias para os seus funerais.
Quando o deputado seguia para a capital,a aldeia parava para saudá-lo.Formavam-se duas filas longas por onde ele passava saudando seus eleitores.Ninguém poderia duvidar :estava ali uma figura da aldeia,talvez a maior.O homem era conhecido por possuir uma extensa biografia,mas sobretudo sublinhava-se a sua passagem heroica pela luta armada.Era um home predestinado indubitavelmente:não teve infância como as outras,cedo os seus ombros carregaram a pátria.Não se falava,como os outros meninos,de uma pueril passagem pela profissão de pastor de gado.Fora professor,isso sim,dizia-se com ênfase,uma profissão nobre.Cedo havia que se envolver em atividades políticas.Teve que abandonar sua aldeia e rumar a Norte,para juntar-se a luta.Regressou com a  independência e não quis experimentar a vida da grande cidade,retornou a sua aldeia por que acreditava que era um homem do campo e lá tinha uma missão.
na aldeia onde vivia o deputado não havia um único automóvel.Por aquela rua,a única,de poeira e sem árvores,por vezes passavam bicicletas.Era uma rua sem o sobressalto dos motores apenas com crianças que brincavam debaixo do sol quando não tinham aulas...O regresso do deputado era motivo de festa na aldeia,mas também de frenesim.
O homem,depois dos cumprimentos da aldeia,dirigia-se a casa,onde banhava-se com um balde de água quente,e comia a comida preparada por sua esposa ,enquanto os filhos não o largavam.mais tarde reunia-se com as personalidades da aldeia e fazia uma longa banja(fala,encontro)contando episódios da viagem,pessoas com as quais falara,contatos com altos dirigentes do partido e repetia fielmente os discursos feitos na tribuna.O homem era o orgulho daquela remota aldeia que vivia das machambas (lavras,pequenas propriedades cultivadas),de algum gado ,mais do que nada.a água escasseava,mas havia um rio não muito longe ,onde as mulheres iam buscar água.Havia ali um posto sanitário,muito precário onde a velha parteira atendia a todo tipo de doentes.a árvore mais frondosa tinha uma gigantesca copa que fazia uma sombra enorme,capaz de albergar todas as crianças que aprendiam acocoradas.Era uma aldeia pobre,mas seus habitantes eram felizes.No dia em que foi conhecida a notícia da morte do deputado,os miúdos não tiveram aulas,as mamanas(mulheres mais velhas)regressaram cedo da machamba,os homens se reuniram na casa do mais velho dos aldeãos.A aldeia ficou coberta de tristeza e desolação.depois de muita especulação ,as notícias não eram animadoras.Só havia a bicicleta para testemunhar a violência da refrega.Mesmo a bicicleta,havia quem asseverasse,já vinha muito desfigurada.A peleja tinha sido de meter medo.Mas tinha que haver um funeral,porém não havia corpo para enterrar.O mais velho por vezes rompia se silêncio proverbial e falava olhando para a imensidão do céu:
- A alma do morto só descansa quando enterramos seu corpo.
Depois de muita discussão ficou decidido :seria sepultada a bicicleta,far-se-ia uma urna,que seria velada e enterrada como se do próprio dono se tratasse.
-Só assim a alma do homem descansará.
Ninguém se opôs e pareceu que a ideia era mesmo brilhante.Nenhum pormenor escapou.Havia duas bandeiras na aldeia.Uma por estrear,que viera com o administrador do distrito e fora guardada para ocasiões solenes;a outra estava rota.Ambas foram postas a meia haste.A urna impunha num estrado pequeno.Os convidados tinham lugar sentados assim como as autoridades.A viúva e os nove filhos estavam sentados na primeira fila .O velório tinha sido marcado para as primeiras horas,o sol foi célere a atingir o rosto dos presentes.As mulheres cantavam.O chefe do partido fez o elogio fúnebre e seguiram-se as mensagens.O cortejo percorreu o trajeto indicado,os cantos e os acenos dos que se despediam do deputado são inesquecíveis.Chegados ao cemitério houve mais elogios antes de a urna descer a terra.
No final,houve uma lavagem de mão,em casa do defunto.A cerimônia do chá tinha muita gente e aí as conversas,nos círculos dos homens,já denunciavam que havia alguma descontração.De repente,surgiu um burburinho e começaram a juntar-se pessoas.Chegara,não muito tempo antes ,um mensageiro.O homem fizera tudo para chegar antes dos funerais da defunta bicicleta.Porém,houve percalços que o atrasaram pelo caminho.A sua volta estavam apenas os homens que haviam comparecido aquele último ritual de despedida do deputado.As mulheres mantinham-se a parte.O mensageiro caiu fatigado,sempre com a língua de fora.Ainda tentaram reanimá-lo.estava morto antes de revelar o que lhe trouxera de tão longe...

Assim contou Nélson Saúte no livro Contos Africanos dos Países de Língua Portuguesa.FNDE

domingo, 29 de abril de 2012


Postando novamente com as devidas correções...


HISTÓRIA DA COCA




Uma vez um menino foi passear no mato e apanhou um jerimun redondo que naquele lugar tinha o nome de coca; chegando em casa, deu a coca a sua avó de presente, que a preparou e comeu.

Mais tarde, sentiu o menino fome e voltou para buscar a coca, cantando:

Minha vó, me dê minha coca
Coca que o mato me deu
Minha vó me dê minha coca
Coca recoca que o mato me deu

A avó, que já havia comido a coca,não tinha outra coisa pra dar, deu-lhe um prato de angu.

O menino ficou com raiva, jogou o angu na parede e saiu. Mais tarde, arrependeu-se e voltou, cantando:

Parede, me dê meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

A parede, não tendo mais o angu, deu-lhe um pedaço de sabão.

O menino andou, andou, encontrou uma lavadeira lavando roupa sem sabão e disse-lhe: — Você lavando roupa sem sabão, lavadeira? Tome este pra você.
Tempos depois, vendo que a sua roupa estava suja, voltou para pedir o sabão, cantando:

Lavadeira, me dê meu sabão
Sabão que a parede me deu
Parede comeu meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

A lavadeira já havia gasto o sabão: deu-lhe então uma navalha.

Adiante, encontrando um cesteiro cortando o cipó com os dentes. Disse-lhe: — Você cortando o cipó com os dentes?... Tome esta navalha.

O cesteiro ficou muito contente e aceitou a navalha.

Mas em seguida, sentindo o menino a barba grande, arrependeu-se de ter dado a navalha (ele sempre se arrependia de dar as coisas) e voltou para buscá-la, cantando:

Cesteiro me dê minha navalha
Navalha que lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Parede comeu meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

O cesteiro, tendo quebrado a navalha, deu-lhe, em paga um cesto.

Recebeu o cesto e saiu dizendo consigo: — Que é que eu vou fazer com este cesto?

No caminho, encontrando um padeiro fazendo pão e colocando-o no chão, deu-lhe o cesto. Mais tarde, precisou do cesto e voltou para buscá-lo com a mesma cantiga.

Padeiro me dê meu cesto
Cesto que o cesteiro me deu
O cesteiro quebrou minha navalha
Navalha que a lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Parede comeu meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

O padeiro, que tinha vendido o pão com o cesto, deu-lhe um pão.

Saiu o menino com o pão, e, depois de muito andar, não estando com fome, deu o pão a uma moça, que encontrou tomando café puro.

Depois, sentindo fome, voltou para pedir o pão a moça e cantando:

Moça me dê meu pão
Pão que o padeiro me deu
O padeiro vendeu meu cesto
Cesto que cesteiro me deu
O cesteiro quebrou minha navalha
Navalha que a lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Parede comeu meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

A moça havia comido o pão; não tendo outra coisa para lhe dar, deu-lhe uma viola.

O menino ficou contentíssimo; subiu com a viola numa árvore e se pôs a cantar:

De uma coca fiz angu
De angu fiz um sabão
De sabão fiz uma navalha
Duma navalha fiz um cesto
De um cesto fiz um pão
De um pão fiz uma viola
Dinguelingue que eu vou para Angola.

domingo, 22 de abril de 2012


Esse é um conto acumulativo,tem como característica a acumulação dos trechos...As crianças adoram,e os adultos também.Esse vai pra Tatiê com carinho...


HISTÓRIA DA COCA

Uma vez um menino foi passear no mato e apanhou uma coca; chegando em casa, deu-a de presente à avó, que a preparoiu e comeu.

Mais tarde, sentiu o menino fome e voltou para buscar a coca, cantando:

Minha vó, me dê minha coca
Coca que o mato me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

A avó, que já havia comido a coca, deu-lhe um pouco de angu.

O menino ficou com raiva, jogou o angu na parede e saiu. Mais tarde, arrependeu-se e voltou, cantando:

Parede, me dê meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

A parede, não tendo mais o angu, deu-lhe um pedaço de sabão.

O menino andou, andou, encontrou uma lavadeira lavando roupa sem sabão e disse-lhe: — Você lavando roupa sem sabão, lavadeira? Tome este pra você.

Dias depois, vendo que a sua roupa estava suja, voltou para tomar o sabão, cantando:

Lavadeira, me dê meu sabão
Sabão que a parede me deu
Parede comeu meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

A lavdeira já havia gasto o sabão: deu-lhe então uma navalha.

Adiante, encontrando um cesteiro cortando o cipó com os dentes. Disse-lhe: — Você cortando o cipó com os dentes?... Tome esta navalha.

O cesteiro ficou muito contente e aceitou a navalha.

No dia seguinte, sentindo o menino a barba grande, arrependeu-se de ter dado a navalha (ele sempre se arrependia de dar as coisas) e voltou para buscá-la, cantando:

Cesteiro me dê minha navalha
Navalha que lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

O cesteiro, tendo quebrado a navalha, deu-lhe, em paga um cesto.

Recebeu o cesto e saiu dizendo consigo: — Que é que eu vou fazer com este cesto?

No caminho, encontrando um padeiro fazendo pão e colocando-o no chão, deu-lhe o cesto. Mais tarde, precisou do cesto e voltou para buscá-lo com a mesma cantiga.

Padeiro me dê meu cesto
Cesto que o cesteiro me deu
O cesteiro quebrou minha navalha
Navalha que a lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

O padeiro, que tinha vendido o pão com o cesto, deu-lhe um pão.

Saiu o menino com o pão, e, depois de muito andar, não estando com fome, deu o pão a uma moça, que encontrou tomando café puro.

Depois, sentindo fome, voltou para pedir o pão à moça e canta:

Moça me dê meu pão
Pão que o padeiro me deu
O padeiro vendeu meu cesto
Cesto que cesteiro me deu
O cesteiro quebrou minha navalha
Navalha que a lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu

A moça havia comido o pão; não tendo outra coisa para lhe dar, deu-lhe uma viola.

O menino ficou contentíssimo; subiu com a viola numa árvore e se pôs a cantar:

De uma coca fiz angu
De angu fiz sabão
De sabão fiz uma navalha
Duma navalha fiz um cesto
De um cesto fiz um pão
De um pão fiz uma viola
Dinguelingue que eu vou para Angola

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

De Joaninha e Pirilampos

Esse blog pretende conversar sobre Oralidade.E pra começar vou postar uma história que dei de presente a Beto,companheiro,amigo,amor,quando do nosso aniversário de 17 anos de parceria...Aí está:

A História do Palhaço que perdeu o coração para uma Contadora de Histórias Ou de Como uma Contadora de Histórias conquistou o amor de um Palhaço


Era uma vez...Ou será?!Há muito tempo atrás...Não importa,o que importa é que houve um Palhaço muito galante,seu nome ,SUVACO,ele era conhecido por chamar atenção das moças por onde passava.Um dia no entanto,o Circo do Palhaço Suvaco,chegou a uma vila,pertinho do mar e coincidentemente chegava aquela vila,Anna a Contadora de Histórias,eles ainda não se conheciam,mas logo,logo iam se conhecer e...Bom continuando...Anna e Suvaco estavam bem pertinho um do outro,se olhavam sem se ver,e como aquele encontro estava demorando muito,o cupido colocou uma pedra,sim uma pedra no meio do caminho da Contadora de Histórias e bem na hora em que ela tropeçou na pedra,vinha passando pertinho o Palhaço Suvaco que a segurou evitando que ela caísse e se machucasse,ao se equilibrar os olhos de Anna cruzaram com os de Suvaco,seus corações aceleraram,e ficaram assim,por pouco tempo,mas o suficiente para despertar em seus corações sentimentos que não conheciam.
Suvaco largou o circo e junto com Anna passou a contar histórias,cantar e encantar crianças de todas as idades e por todos os lugares que passam ensinam que o amor supera todas as dificuldades e diferenças e que ser gentil é a melhor forma de tratar as pessoas.
Suvaco, o Palhaço, e Anna ,a Contadora de Histórias casaram-se em cerimônia simples sem muito estardalhaço,e hoje fazem o que mais gostam,levam o encanto das histórias por onde vão.
E essa história não acaba por aqui,ao contrário é aqui que ela começa,pois assim como os personagens dos contos de fadas,nosso personagens foram e são felizes e nesse caso ainda serão por muito e muito tempo,contando,cantando e encantando a todos com suas histórias...
                                             "E aqui vamos ficando
                                               já é hora de acabar
                                              quem quiser pode ir chegando
                                              com outra história pra contar..."
Aprendi ao longo desses 12 anos pesquisando,ouvindo e contando histórias que para aquele que conta ,a história é um presente que se dá a audiência.esse foi o meu presente ao meu Pirilampo,que com sua luz me fez encontrar meu próprio caminho "Beto Vieira",meu amor,meu carinho.